sábado, 3 de março de 2012

EFUSÃO PLEURAL EM FELINOS



A coleção anormal de  líquido no espaço pleural constitui o derrame (efusão) pleural. Embora o espaço pleural seja insignificante no gato sadio, a presença de líquido causa compressão pulmonar, aumentando o espaço pleural de tal modo que podem estar presentes 200 ml ou mais de líquido. O fluxo de líquido pelo espaço pleural é um processo contínuo. Sua origem é a circulação perietal de alta pressão. Á medida que o líquido vai formando-se, vai também sendo removido pela circulação visceral de baixa pressão, de modo que ocorre movimento constante.
Cinco mecanismos são responsáveis pela formação do derrame pleural:
-Aumento da pressão hidrostática venosa ou capilar.
-Diminuição da pressão oncótica capilar em decorrência de hipoalbuminemia.
-Aumento da permeabilidade da membrana capilar.
-Obstrução ou derrame linfático.
-Hemorragia (hemotórax é incluído de forma discutível como forma de derrame pleural).
Felinos de qualquer idade, raça ou sexo podem ser acometidos de derrame pleural. Na maioria das vezes, o proprietário informa que seu animal teve um acesso agudo de dispnéia ou taquipnéia. Contudo, a maioria das causas de derrame pleural não é peraguda. A capacidade do gato esconder a doença até a chegada da crise impede que muitos donos detectem o problema em seus estágios iniciais. Muitos felinos com efusão pleural tem história de letargia e anorexia de um a vários dias de duração. Alguns também perdem peso. O exame físico pode revelar tauipnéia, ortopnéia, respiração com a boca aberta, cianose, febre e desidratação. O sinal mais significativo da doença avançada é dispnéia; contudo, doenças com surgimento mais lento podem causar alterações sistêmicas (letargia, anorexia) que fazem com que o dono procure ajuda veterinária. Alguns desses felinos apresentam-se apenas com taquipnéia que pode não ser perceptível ao dono. Devemos observar cuidadosamente o padrão respiratório do animal, quando do exame clínico.
Diagnóstico
- Radiografia torácica- projeções dorsoventral e latero lateral
- Análise do líquido
-Hemograma, perfil bioquímico sério, urinálise, perfil de vírus felinos (Fiv e Felv)
-Ultrassonografia torácica- ECODOPPLER
-Eletrocardiograma
Tratamento
- Administração de Oxigênio
- Confinamento em gaiola
-Toracocentese
-Terapia específica (tratamento da causa primária)
O serrame pleural não é uma doença mas um sintoma de doença subjacente grave que deve ser diagnosticada antes de se iniciar a terapia pertinente, especialmente porque muitas destas doenças não são tratáveis.
O prognóstico depende do êxito  em aliviar a crise dispnéica e do diagnóstico. Derrame pleural sinaliza a necessidade de estudo diagnóstico e terapia intensivos, mas para muito felinos o resultado é muito bom.

quinta-feira, 1 de março de 2012

CARDIOMIOPATIA HIPERTRÓFICA EM FELINOS



A miocardiopatia hipertrófica (HCM), é a doença cardíaca mais comum no gato e caracteriza-se por hipertrofia significativa e não explicada do ventrículo esquerdo. O ventrículo esquerdo não está dilatado e frequentemente está hiperdinâmico. Não existe causa definível contrastando hipertrofia do ventrículo esquerdo secundária á hipertireoidismo, hipertensão sistêmica ou estenose subaórtica. Embora a causa seja desconhecida, em seres humanos com HCM foram demonstradas mutações na cadeia pesada da beta miosina do miocárdio ; esse defeito pode ser responsável pela doença também em gatos. Outras hipóteses são alteração no transporte do cálcio no miocárdio, aumento da sensibilidade do miocárdio ás catecolaminas e aumento da produção de fatores tróficos do miocárdio. Hipertrofia do ventrículo esquerdo resulta em câmara rígida e não complacente, causando disfunção diastólica (de enchimento ventricular). Isso leva á pressões de enchimento do ventrículo esquerdo elevadas e á dilatação do átrio esquerdo. Á medida que a doença evolui, aumentam as pressões venosas pulmonares e ocorre edema pulmonar, A dilatação do átrio esquerdo predispõe o gato á arritmias atriais. A estase sanguínea no interior  do átrio esquerdo dilatado pode resultar em formação de trombo e doença tromboembólica. Os gatos acometidos também podem sofrer arritmias ventriculares fatais secundárias á isquemia do miocárdio. A idade média dos felinos acometidos é 6 anos, com variação de 8 mêses a 16 anos. Aproximadamente 75% são machos. As incidências relatadas são: gato doméstico de pêlo curto- 89,1%, gato persa- 6,5%; gato doméstico de pêlo longo- 2,2%, gato maine coon, 2,2% (outras raças tais como Bengal, Sphynx, florestas da Noruega, também podem ser acometidos sendo que existe uma característica genética e hereditária associada) Os sinais clínicos são variáveis. Muitos gatos não apresentam sinais clínicos por ocasião da comprovação da HCM. Na maioria das vezes, esses gatos são examinados por ter sido detectado sopro, ritmo de galope ou outra arritmia durante um exame de rotina. Por outro lado, o caso pode ser diagnosticado pela primeira vez apenas depois do surgimento de sinais clínicos graves, por exemplo, edema pulmonar fulminante ou tromboembolia sistêmica. As anormalidades descobertas durante o exame físico dependem do estágio da doença. Gatos com insuficiência cardíaca congestiva apresentam taquipnéia e respiração laboriosa. Gatos com tromboembolia sistêmica exibem sinais característicos. Ocorre sopro cardíaco em aproximadamente 65 a 95% dos gatos com HCM. Outros achados da auscultação podem ser ritmo de galope (40%) e outras arritmias.
Diagnósticos primários:
- Eletrocardiograma
-Radiografia de tórax
-Ecocardiograma
-Ecodoppler
Tratamento:
- reduzir o estresse
-facilitar a respiração
-oxigênio
Terapia secundária:
- Diltiazen
- Atenolol e propranolol
-Enalapril
-Aspirina ou warfarina
-diuréticos
O prognóstico dos gatos acometidos depende da gravidade da doença. Gatos sem sinais clínicos tem sobrevida média de aproximadamente 5 anos. Foi relatado que gatos com evidência de insuficiência cardíaca congestiva tem sobrevida média de 3 mêses, embora o tempo de sobrevida possa aumentar diante dos avanços terapêuticos. Frequentemente, tromboembolia sistêmica exacerba a insuficiência cardíaca congestiva. Também é provável a ocorrência de recidiva.

domingo, 26 de fevereiro de 2012

CORRIMENTO NASAL EM FELINOS



Coriza ou corrimento nasal é a presença de secreção de qualquer aspecto (serosa, mucosa, catarral, sanguinolenta, etc) proveniete de uma ou ambas as narinas. È normalmente acompanhada de espirros que projetam a secreção para fora das narinas. Quando o corrimento nasal ocorre há mais de 30 dias ele é considerado crônico. Pode ser desencadeado por vários patógenos diferentes sendo portanto importante uma abordagem diagnóstica sistemática.
Geralmente, gatos acometidos sofrem episódios periódicos de espirros intensos, indicando doença na nasofaringe dorso caudal. Na maioria das vezes, o  corrimento nasal não indica necessariamente a presença de doença sistêmica,  exceto nos casos de infecções fúngicas ou neoplasia. Os diagnósticos diferenciais incluem:
-Infecção viral - herpesvirus felino, calicivirus felino
-Infecção bacteriana - Pseudomonas, Proteus, Staphylococcus, Chlamydia, entre outros.
-Infecção por fungo - Cryptococcus, Sporothrix
-Neoplasia- adenocarcinoma, linfossarcoma, entre outros
-Parasitas - cuterebra
-Pólipos inflamatórios
-Corpo estranho
-Alergia alimentar
-Atopia
- Doença periodontal             
Os diagnósticos diferenciais primários incluem alguns fatores tais como idade do surgimento dos sintomas (gatos jovens sugerem doenças virais, bacterianas ou pólipos e gatos mais idosos sugerem neoplasias, sendo que as demais causas não estão relacionadas á idade). Radiografias devem ser obtidas em projeção lateral e ventro dorsal para visualização dos seios nasais onde normalmente se observa opacidade de um ou ambos os seios nasais  indicando presença de secreção. Cultura e citologia de secreção  deve ser coletada diretamente do foco através de punção do palato e aspiração do material. Outros exames incluem endoscopia (rinoscopia) e rinotomia (acesso cirúrgico da cavidade nasal). Pela minha experiência tenho observado que nos gatos de meia idade a patologia mais frequente é a presença crônica de secreção em seios nasais indicando sinusite e em gatos jovens doença do trato respiratório superior na maioria das vezes de origem viral. O tratamento dependerá da causa e o prognóstico depende do diagnóstico específico.





CARDIOMIOPATIA DILATADA EM FELINOS



A miocardiopatia dilatada (CMD) caracteriza-se por grave dilatação dos ventrículos esquerdo e direito e disfunção sistólica, resultando em insuficiência cardíaca retrógrada (edema pulmonar, derrame pleural e ascite) e anteretrógrada (redução do débito cardíaco). Depois da descoberta, em 1987, que a deficiência de taurina era causa significativa de CMD, a incidência desta doença decaiu de forma espetacular subsequentemente ao fornecimento de níveis adequados de taurina nas rações comerciais. A suplementação de taurina na alimentação reverte a doença, se a cardiomiopatia for secundária á deficiência dessa substância. Quase todos os casos de CMD felina são primários ou idiopáticos. O diagnóstico é firmado apenas depois que foram excluídas outras causas de insuficiência do miocárdio, como deficiência nutricional ou de taurina, prolongada sobrecarga de volume no ventrículo esquerdo (congênita ou adquirida) ou insuficiência tóxica, isquêmica ou metabólica do miocárdio. Miocardiopatia dilatada resulta em insuficiência cardíaca secundária a grave sobrecarga de volume no ventrículo esquerdo e direito e em má função sistólica. As anormalidades típicas desvendadas no exame físico são pulsos femorais fracos, choque cardiogênico, aumento de sons respiratórios, sopros cardíacos, ritmos de galope, distensão ou pulsos jugulares e ascite.
DIAGNÓSTICO:
-ECOCARDIOGRAMA
-RADIOGRAFIA TORÁCICA
-ELETROCARDIOGRAFIA
Como diagnóstico auxiliar pode-se proceder análise de taurina, perfil bioquímico e sérico e exame de fundo de olho (verificar degeneração de retina por deficiência de taurina). Gatos com CMD apresentam maior tendência para ascite que em outras formas de cardiopatia, devemos considerar a presença de hipertiroidismo em todos os gatos com CMD, e observar a possível formação de trombos em gatos com dilatação grave do átrio esquerdo.
TRATAMENTO:
-terapia com diuréticos
-Toracocentese
-Oxigênio
-redução no stress
-Pericardiocentese
Podem ser usados terapia vasodilatadora, agentes inotrópicos positivos, suplementação com taurina, anticoagulantes.
O prognóstico para gatos com CMD causada por deficiência de taurina é excelente com a suplementação se sobreviverem á crise de insuficiência cardíaca congestiva. Nos casos de doença genética, o prognóstico é reservado á mau.