A primeira transfusão documentada em humanos foi feita em 1818, mas a medicina transfusional realmente decolou na década de 1920 e 1930, quando anti-coagulantes foram introduzidos, permitindo o armazenamento de sangue e o desenvolvimento de bancos de sangue. A medicina de transfusão humana tornou-se uma ciência muito avançada. Em medicina veterinária, as transfusões são realizadas com menos frequência, mas podem exercer um papel vital em situações de emergência e cuidados intensivos. Assim como nos seres humanos, uma transfusão de sangue em um gato pode pode ser um procedimento que irá salvar vidas, no entanto, as transfusões devem ser feitas com cuidado - há dificuldades práticas associadas à coleta e armazenamento de sangue, e um maior risco de complicações, tanto para o doador quanto para o receptor. Uma transfusão de sangue fornece uma fonte imediata de glóbulos vermelhos, que são essenciais para o transporte de oxigênio pelo corpo. Uma transfusão de sangue pode, portanto, estar indicada na anemia grave e salvar vidas. No entanto o sangue contém muitos outros elementos que podem também ser úteis. Quando o sangue é transfundido os três principais elementos que podem ser fornecidos são:
Os glóbulos vermelhos (eritrócitos): estas são as células que carream oxigênio ao redor do corpo e são indicados para tratar anemia. O percentual de hemáceas denominado hematócrito (PCV) pode ser utilizado para estimar o número de células vermelhas do sangue. Num gato normal, o PCV é geralmente entre 25% e 45%. Embora cada situação individual varie, uma transfusão de sangue será normalmente necessária se o PCV cair abaixo de 10-15%.
Plasma: este é o componente de fluido do sangue (em que as células vermelhas estão suspensas). Ele contém proteínas com funções essenciais. Albumina - esta é a principal proteína no sangue, e a mais importante, ajuda a manter o fluido (água) dentro da circulação. Outros produtos químicos e hormônios podem ser transportados pela circulação estando ligados à albumina. Os fatores da coagulação - estes são criticamente importantes proteínas no sangue que causam a coagulação do sangue quando um vaso sanguíneo é danificado. Mediadores inflamatórios - uma variedade de proteínas são produzidos durante a inflamação para ajudar a combater as infecções e regular a inflamação.
Plaquetas: são células muito pequenas no sangue que trabalham ao lado de fatores de coagulação para permitir a coagulação do sangue e evitar sangramento prolongado após a lesão.
O sangue pode, potencialmente, ser separados em três desses componentes (glóbulos vermelhos, plaquetas e plasma), e isto é geralmente feito na medicina humana, de modo que os três elementos podem ser utilizados individualmente, quando necessário. No entanto, embora essa abordagem às vezes seja usada em transfusões caninas, é muito menos comum em gatos, em parte por causa do sangue de gato (glóbulos vermelhos, em particular) o qual não pode ser armazenado por um período de tempo longo, tendo uma durabilidade em média de 28 dias.
Grupos sanguíneos e compatibilidade com o sangue
Existem três grandes grupos sanguíneos em gatos - A, B e AB. O grupo A é o mais comum, enquanto o grupo B é comum em algumas raças de linhagem. Grupo AB parece ser raro em todas as raças.
Os gatos que passam por transfusão de sangue não compatível podem desenvolver graves reações transfusionais com risco de vida, pois os gatos podem ter anticorpos de ocorrência natural (uma parte do sistema imunitário) no sangue contra as células vermelhas do sangue de tipo errado. Isto é particularmente verdadeiro para os gatos do tipo B que sempre têm níveis elevados de anticorpos contra o sangue do tipo A (e reagem mal se transfundidos com tipo sanguíneo A), mas o inverso também será verdadeiro para gatos tipo A.
As incompatibilidades e risco de reações transfusionais graves significa que os gatos só devem receber uma transfusão de sangue compatível.
As reações a outros componentes do sangue, como glóbulos brancos, plaquetas e proteínas plasmáticas também podem ocorrer ocasionalmente, mas estes tendem a ser mais leves e geralmente são gerenciáveis.
Evitando problemas de transfusão
Devem ser tomadas medidas para assegurar, na medida do possível, que o sangue dos doadores e receptores seja compatível. No mínimo, de ambos os gatos A / B / grupo sanguíneo AB têm de ser verificados e, idealmente deve-se proceder o teste de aglutinação ou tipagem sanguínea do doador e receptor.
O gato doador deve ser testado para infecções transmitidas pelo sangue, incluindo o vírus da leucemia felina (FeLV), vírus da imunodeficiência felina (FIV) e Mycoplasma haemofelis (a causa da anemia infecciosa felina).
Muito cuidado é necessário durante a transfusão para evitar sobrecarregar a circulação do gato receptor, pois isso pode levar a insuficiência cardíaca - geralmente uma transfusão deve ser administrada lentamente por causa disso.
Gatos receptores devem ser acompanhados de perto, especialmente durante o início da transfusão, para identificar qualquer reação. Os primeiros milímetros de sangue devem ser administrados de forma muito lenta (por exemplo, 1 ml / kg / h durante os primeiros 30 minutos), de modo que quaisquer reações podem ser identificados e a transfusão interrompida.
Garantir a segurança do doador de sangue
Coleta de sangue de um gato doador deve ser feita com cuidado para garantir que os riscos sejam mantidos a um mínimo absoluto. As recomendações atuais são de que o gato doador deve ser:
Saudável, totalmente vacinado e, idealmente, vivendo inteiramente dentro de casa
Menos de 8 anos de idade
Mais de 4,5 kg de peso corporal magro
PCV deve ser superior a 30% e, de preferência acima de 35%
Negativo para FeLV / FIV / Mycoplasma haemofelis
Mesmo quando são cumpridos todos estes critérios, a doação de sangue não está isenta de riscos - pressão arterial baixa pode ocorrer no doador após a remoção de uma quantidade significativa de sangue e doenças do coração, ocasionalmente, não detectados anteriormente podem se tornar aparentes após um gato doar sangue - o volume sangüíneo alterado pode induzir á insuficiência cardíaca e morte. Apesar de incomum, uma eco doppler cardiografia do coração pode ser útil na identificação de tais gatos antes de doar sangue.
Bancos de sangue de felinos
Com as precauções necessárias para transfusões de sangue, nem sempre é fácil encontrar um gato doador adequado em uma situação de emergência.
Ter acesso a um banco de sangue local, onde sangue e seus produtos são armazenados e podem ser encomendados para entrega rápida, quando necessário, seria o ideal, fornecendo um sangue já testado com hemograma . No entanto, isto não é fácil em se tratando de sangue de gato, em parte porque as células vermelhas do sangue apenas podem ser armazenadas durante um tempo muito limitado (em torno de 28 dias). Os bancos de sangue podem tornar-se mais amplamente disponíveis
no futuro, mas são atualmente muito raros.
Algumas clínicas podem manter um pequeno grupo de gatos especificamente para a doação de sangue, e os gatos que necessitam de uma transfusão podem ser encaminhado para essas clínicas. Outra solução prática que algumas clínicas veterinárias adotam é manter um cadastro de proprietários que estão dispostos a permitir que seus gatos sejam utilizados como doadores. Isso pode ser muito útil, embora não haja nenhuma solução perfeita.